Durante nossa
pesquisa pudemos notar que existe uma grande questão identitária na
música Trance. Suas próprias raízes explicitam a transformação e
apropriação de culturas já definidas (xamanismo, etc). A formas
de se atingir o transe agora; a música eletrônica é um exemplo
disso. Foram pessoas de diversas nações e conhecimentos técnicos
ou não que fundaram o estilo. A incorporação de questões tribais
e étnicas ao movimento, seus participantes trouxeram e ainda hoje
trabalham com estas questões trazidas a modernidade, através das
batidas que eram feitas pelo tambor e hoje são tocadas por DJ's. O
próprio conceito de contra cultura que fazia e ainda faz parte da
mentalidade de quem participa e (re) cria o movimento explicita muito
bem como este se liga com a questão identitária. Na nossa sociedade
pós-moderna, existe uma necessidade de estar e de partilhar, e esta
necessidade materializou-se através da formação de grupos, cujos
membros partilham uma identidade simbólica, originando o
neotribalismo. Essa nova cultura, é seguida por muitos como uma
verdadeira filosofia existencial, que faz parte do indivíduo e de
sua identidade.
Neste sentido
podemos ligar a questão da identidade Trance a liquidez de Bauman e
a negação a uma identidade sólida e completamente definida. Muitas
pessoas que frequentam as festas e se identificam com a cultura
Trance, não a vive 24 horas por dia. Existem outros interesses e uma
partilha desta parte de suas identidades dando assim um caráter
transitório a estas. Uma identidade completamente fixa para Bauman,
não tem tanto valor hoje, já que existem diversas opções e se
limitar a uma não é desejável. A noção da reformulação e
mudança constante também trabalhada pelo autor pode ser comprovada
com outras vertentes do movimento Trance, que são criadas por seus
participantes.
Também podemos ligar esta questão a Hall, já que o mesmo também defende a constante descentralização da identidade dos indivíduos. Sua noção de deslocamento e movimento causados pela globalização se liga ao Trance já que o mesmo já nasceu descentralizado. Foi criado de diversas vertentes, tanto da modernidade quanto de rituais primitivos. Um movimento que engloba estas questões se liga a esta questão de descentralização de Hall, pois para o mesmo ocorre a desvinculação da identidade de locais, tempos, tradições específicas, etc. O Trance com suas diversas vertentes trás muito desta noção, já que pudemos notar que o próprio ambiente das festas é dado de forma com que o indivíduo se desvincule do ambiente “externo” do aqui e agora e confraternize através da dança e da música com um grupo que vai partilhar com ele aquelas sensações. A noção de híbrido cultural também se liga ao tema, já que, como já exposto, a própria raiz do Trance é híbrida. Assim, o efeito da globalização, que retira a noção de “nacionalidade” fixa que para Hall está sendo cada vez mais desconstruída também se aplica aqui.
Além
disso, podemos contextualizar a cultura trance com as diferentes definições de
cultura apresentadas no texto “Cultura popular: as construções de um conceito
na produção historiográfica”, de Petrônio Domingues.
No texto, são abordados os
conceitos cultura popular e cultura erudita por diversos autores. Observa-se
que a influência mútua não nos permite dizer o limite certo entre as duas, nem
dizer com precisão o que as define. Tal fato é abordado pelo historiador inglês
Peter Burke, que afirma que o que deve ser estudado é, principalmente, a
interação entre as culturas popular e erudita, e não a sua divisão.Apesar dessa
complexidade, os autores apresentam definições do que é a cultura popular.
Os conceitos de cultura
popular apresentados no texto, apesar das divergências entre si, chegam a um
ponto comum: a cultura popular é um processo plural, sofre influências de
outras culturas, inclusive da erudita, e está em constante recriação de si
mesma. Assim, podemos observar essas características na cultura trance, muito
influenciada pela cultura indiana, culturas tribais, xamanismo, assim como pela
cultura hippie e mesmo pelo rock n' roll. Também é observável que a cultura
trance está em constante mudança, adquirindo ao passar do tempo novos elementos
provenientes de outras culturas.
Em determinado ponto do texto, é
dito que Peter Burke, ao longo de seu livro Cultura popular na Idade
Moderna, evidencia que a cultura do povo se apresenta, sempre, como um
conjunto misto que reúne formas e elementos culturais de origens diversas, como
uma colcha de retalhos. Tal passagem define perfeitamente a pluralidade das
origens dos elementos da cultura Trance.
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